Thiago Pethit lança seu primeiro álbum e troca uma palavrinha com o Mix


Ultra sensível, o brasileiro Thiago Pethit fala de Berlim, Texas, seu álbum de estreia.

Com influências de diversas vertentes musicais, o cantor multimídia Thiago Pethit acaba de lançar seu primeiro álbum, "Berlim, Texas". Thiago faz parte de uma nova leva de artistas que inovam o cenário musical brasileiro com fragmentos étnicos de diversas culturas. Com canções em francês, português em inglês, o rapaz esbanja talento e sensibilidade artística.

Pethit já havia conquistado fãs com o seu EP "Em Outro Lugar", usando da mesma fórmula musicalmente delicada de retratar o mundo. O rapaz conversou com o Mix sobre suas novas canções e projetos profissionais.

Assim como no seu EP anterior, o seu álbum de estreia contém musicas em francês, inglês e português. Em qual idioma você se sente mais à vontade de compor?
Isso depende mais da música do que da minha disponibilidade com os idiomas. Embora o francês seja, sem dúvidas, o mais difícil. Não é um idioma que eu domino completamente, sempre preciso de ajuda para escrever as músicas e isso acaba interferindo na temática delas. Mas as músicas acabam encontrando o idioma antes de mim. É meio intuitivo isso. Acho que não tem uma explicação. É como optar por gravar uma base no piano ou no violão, ou num acordeom ou em outro instrumento. Os idiomas acabam intuitivamente escolhendo as músicas, e as músicas, a eles.

Quais foram suas influências na sua carreira, mais precisamente no "Berlim, Texas"?
Estive no teatro, como ator e diretor por 10 anos, antes de trabalhar com música. É uma bagagem que eu não posso negar. Creio que isso estará exposto em qualquer trabalho que venha a fazer. No meu primeiro EP (lançado em 2008), tentava buscar vozes e personagens para teatralizar as canções. Já no “Berlim, Texas”, optei por deixar o teatro como pano de fundo. As letras são espécies de cartas confessionais e eu não quis deixar um personagem na frente disso. Preferi dar a minha voz para essas músicas, interpretando simplesmente aquilo que eu vivi e escrevi. E são tão simples também, sem nenhum rebuscamento metafórico ou de linguagem, que não havia sentido criar arranjos dramáticos, cheios de elementos que escondessem essa faceta. O teatro ficou presente nesses arranjos, erros de gravações, ruídos, certo toque de realidade dos sons que não tem cara de estúdio e nem são limpinhos. São músicas para um cabaré, elas têm esse caráter decadente dos shows de Vaudeville. Não são músicas fáceis e assépticas. A beleza está nas estranhezas, no vazio dos instrumentos e na crueza.


As músicas claramente refletem uma pessoa sensível e às vezes melancólica. Isso seu reflete seu estado de espírito como artista ou é apenas sua preferência sonora?
Isso reflete meu estado de espírito no momento em que fiz essas músicas e optei por gravá-las. Eu sou um pouco melancólico realmente e por isso gosto de músicas melancólicas. Mas são nuances de personalidade. Eu também tenho um lado mais ensolarado e feliz, que gosta de música para dançar e até tenho vontade de fazer um dia. Adoro Hot Chip, Sebastien Tellier...

Nas suas músicas, o que tem do Thiago pessoa e o que tem do Thiago artista? Eu sou pessoa e artista o tempo todo. Não existe essa dissociação e sinto que não têm como existir, pra mim pelo menos. As músicas expõem isso. Isso é um pouco assustador às vezes, mas é uma opção que eu faço porque me deixa mais tranqüilo e seguro. Sentir que não há uma máscara, ou uma embalagem por cima do meu trabalho, ou de mim mesmo. Mas enquanto pessoa, eu tento resguardar ao máximo aquilo que só diz respeito a mim. Enquanto artista, mostro o que tenho necessidade de compartilhar e encontro diálogos com quem se identifica.

Qual será seu próximo passo profissional?
Minha maior vontade no momento é aproveitar o álbum para sair do circuito de São Paulo. Estive em Recife, tenho um show no Rio. Mas quero passar por outras capitais, acessar as pessoas de regiões mais distantes e que certamente vão receber minha música de um jeito completamente diferente. Deve ser um diálogo ótimo para um artista.

Você é muito querido pelos fãs de folk, considerado uma das poucas boas opções no Brasil. Tendo a cantora Malu Magalhães como exemplo, você acha que o brasileiro está pronto para receber esse estilo musical?
Acho muito difícil falar de rótulos. Ainda mais do folk, que é um estilo que fez sentido na década de 60 e 70, sobretudo. O que fazemos hoje em dia, não é folk. Não é rock. É tudo música pop que pode ter uma atitude folk, ou punk ou reggae, qualquer coisa. O pop contemporâneo engloba quase tudo que já foi criado, enquanto movimento, ou estilo, rótulo... E a música pop pode ser assimilada por qualquer um.

Você acha que o público brasileiro tem maturidade o suficiente para compreender suas canções sem que haja preconceito?
Isso não é uma questão de maturidade. E muito menos posso falar sobre “o público brasileiro”. Eu não sei quem é esse público e cada vez menos se sabe. São tantas as cidades, as culturas inseridas dentro de cada região, cada nicho, ter um público como base diminui muito as possibilidades artísticas. Não faço música para um público específico, nem brasileiro ou paulista, jovem ou velho, gay ou heterossexual, negros ou brancos. Faço música para qualquer pessoa que tenha interesse no que eu proponho. Preconceito musical é uma coisa muito burra, mais ainda se partir do artista. O mercado de vendas é brasileiro, mas a internet proporciona diálogos com todos que tenham acesso e interesse. O público, seja ele quem for, pode gostar ou não. É esse meu ponto de partida.

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